09/03/2015
O desenvolvimento da tecnologia de quinta geração de serviços móveis (5G) foi um dos principais temas discutidos no Mobile World Congress, na semana passada, em Barcelona. O tema é polêmico. As empresas ainda tentam entender qual será o papel fundamental de 5G no futuro - o lançamento é previsto para 2020. Paralelamente, já entram em uma disputa pela liderança do mercado que se desenha. Eháquem diga que ainda não é o momento de se dar um grande salto tecnológico.
Fornecedores, operadoras, organismos responsáveis por padronização de faixas de frequência e governos são aliados e adversários na etapa inicial de 5G. Quem sair na 'pole position' pode conquistar os melhores contratos de fornecimento de equipamentos, sistemas e serviços.
Se a tecnologia 4G trouxe mais velocidade de banda larga ao usuário, em 5G o consumidor será beneficiado, mas por meio de um novo conceito que tem sido definido pelo setor de telecomunicações como a sociedade conectada. Diferentemente de 4G, a nova geração não será destinada a dar mais velocidade para navegar na web e acessar redes e aplicativos, disse ao Valor Dimitri Diliani, vice-presidente da Nokia Networks para a América Latina.
"A 5G é sobre o que se pode fazer com a tecnologia, com a banda larga móvel, para melhorar a vida das pessoas", afirmou. Não serão as pessoas que terão acesso às redes em 5G, e sim as máquinas, dispositivos que executarão tarefas para as pessoas, para tornar a vida melhor e mais eficiente. "Se você puderganhar duas horas por semana eficar lendo porque alguém está fazendo um trabalho por você, é fantástico, pois o tempo é precioso, não tem preço", disse.
Em Barcelona, a Nokia demonstrou ao público seu conceito de 5G. A empresa desenvolve a tecnologia há uns dois anos, segundo Diliani, e no ano passado demonstrou que já poderia alcançar velocidade de 600 megabits por segundo (Mbps).
A internet das coisas pode permitir que hospitais coloquem sensores em seus pacientes e os monitorem remotamente, emitindo alertas aos médicos em caso de alteração de sinais. Ficar em casa com a família, e não no hospital, ajuda na recuperação e é uma tendência na Europa, disse Diliani.
Com 50 bilhões de dispositivos conectados a partir de 2020, serão executadas não apenas funções como essa, mas também a coleta de outros dados importantes em diversos setores da sociedade. Carros serão conectados em qualquer lugar, poderão ser localizados em mapas e seus motoristas acionados por autoridades remotamente. Saúde, transportes, entretenimento, educação poderão se beneficiar da inteligência e velocidade de comunicação das máquinas por essas redes.
Para a Alcatel-Lucent, as empresas estão fazendo só barulho, pois ainda não existe ummercado de 5G. As áreas de pesquisa das operadoras precisam entender o que será a tecnologia para interpretar e dirigir a pesquisa e os padrões.Em outra linha, as áreas comercial e operacional estão tentando compreender como 5G se encaixa nas operações futuras e distribuição de receitas.
O diretor-geral de tecnologia 'wireless' (sem fio) da Alcatel-Lucent, Michael Peeters, diz que há dois caminhos possíveis para 5G. O primeiro é manter suporte a aplicações de ultrabanda larga, que resolve o problema de conexão às redes para os usuários.O segundo é permitir ao mundo a onipresença da internet das coisas(IoT,nasiglaem inglês). Nesse cenário,bilhões de dispositivos reais ou virtuais, na forma de aplicativos, se comunicam com baixíssimo uso de banda larga, mas podem assumir o total controle da rede.
Não há necessidade de se da rum grande salto tecnológico ainda, diz CEO da Qualcomm, em defesa da tecnologia 4G
Hatem Barmatraf, diretor-geral de tecnologia da operadora Etilasat, com base Emirados Árabes Unidos, disse queaempresa trabalha para ser a primeira a lançar 5G. Diz que essa tecnologia formará os pilares quedarão sustentação àcomunicaçãoentre máquinas (M2M), ao governo eletrônico e aos serviços de IoT. Por isso, diz, o futuro do setor depende do desenvolvimento de 5G.
A Telefónica da Espanha e a Ericsson fizeram uma aliança para desenvolvimento de 5G, de olho na liderança desse mercado. Enquanto isso, planejam antecipar funções de 5G na rede 4G, para garantir a competição.
Para o presidente do Bell Labs e diretor-geral de tecnologia da Alcatel-Lucent, Marcus Weldon, o marketing de concorrentes em relação a 5G é "ridículo". Segundo ele, a maioria fala sobre 5 gigabits por segundo ou o dobro dessa velocidade, mas ninguém detalha a configuração para isso. Em sua opinião, o barulho em torno de 5G é só distração.
Günther Oettinger, comissário da União Europeia, disse durante conferência em Barcelona que as autoridades têm um papel crucial para dirigir os esforços sobre 5G no continente. Para ele, sem a parceria público-privada para 5G, sem a Comissão Europeia para moderar o processo e sem financiamento, a Europa não terá chance nem de participar do jogo. Em 4G, os europeus perderam a partida, e ninguém quer ver a reprise.
Mas ficar de fora da tecnologia não é uma opção. "Em nossa área, não podemos nos sentar e esperar durante um longo tempo. Ninguém pode deixar de investir em 5G", frisou Diliani, da Nokia.
O consenso não é fácil quando envolve tantos jogadores, poder, inteligência e investimentos em nível global. Para o executivo-chefe da Qualcomm, Steve Mollenkopf, o maior desafio é o grande número de aplicações da tecnologia, já que estarão envolvidos bilhões de dispositivos conectados pela internet. Ele advertiu que é preciso proteger os investimentos feitos em LTE (a tecnologia de 4G) pois não há necessidade de se dar um grande salto tecnológico ainda.
Por outro lado, Ken Hu, executivo-chefe da Huawei, se mostra entusiasmado com a futura geração. Em sua opinião,LTEnãopodesuportaras milharesdeconexõesexigidas pela IoT.Hu destaca a aplicação para um carro sem motorista. Parar um carro conectado que trafega a 100 km por hora pode estender a distância de frenagem em 1,4 metro, devido à latência em LTE;em 5G adistância cai para 2,8 cm, disse Hu.
A repórter viajou a convite da Ericsson
Fonte: Ivone Santana | De Barcelona - Valor Econômico
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